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sábado, 9 de julho de 2011

PARINTINS - A Sedução do Folclore Amazonense

O Festival Folclórico de Parintins é uma festa popular realizada anualmente no último fim de semana de junho na cidade de Parintins, Amazonas.

O festival é uma apresentação a céu aberto, onde competem duas associações, o Boi Garantido, de cor vermelha, e o Boi Caprichoso, de cor azul. A apresentação ocorre no Bumbódromo (Centro Cultural e Esportivo Amazonino Mendes), um tipo de estádio com o formato de uma cabeça de boi estilizada, com capacidade para 35 mil espectadores. Durante as três noites de apresentação, os dois bois exploram as temáticas regionais como lendas, rituais indígenas e costumes dos ribeirinhos através de alegorias e encenações. O Festival de Parintins se tornou um dos maiores divulgadores da cultura local.

O festival é realizado desde 1965 e já teve vários locais de disputa como a quadra da catedral de Nossa Senhora do Carmo, a quadra da extinta CCE e o estádio Tupy Cantanhede. Até que em 1987, o governador Amazonino foi assistir o festival, no mesmo local onde é o Bumbódromo, mas era um tablado. Ele gostou tanto da festa que prometeu construir um local do tamanho que o festival merecia e, no ano seguinte, em 1988, inaugurava o Bumbódromo.

Até 2004 era realizado sempre nos dias 28, 29 e 30 de junho. Uma lei municipal mudou a data para o último fim de semana desse mesmo mês.
São intermináveis os preparativos para o espetáculo mais esperado da maior floresta do planeta, o Festival Folclórico de Parintins. Mas a festa do boi, como é chamada pelo povo, acontece todos os dias no coração dos amazonenses. Os ensaios, a confecção das alegorias, fantasias e coreografias têm início dois meses antes do grande evento celebrado no bumbódromo, o templo do festival. Mais de 100 mil pessoas são atraídas anualmente para o Festival de Parintins: a cada noite, o resultado dos ensaios nos QG’s de Caprichoso e Garantido é apresentado através do conjunto folclórico, inspirado em lendas de pajelanças indígenas de várias tribos, e costumes caboclos da amazônia.

Marcada pelas impressionantes alegorias representadas por carros confeccionados por artistas parintinenses, a disputa baseia-se em lendas locais, as quais, ano após ano, voltam a povoar o imaginário popular, representando a história do homem amazônico através de uma grande festa, a qual contagia com suas toadas tanto os brincantes quanto o público nas arquibancadas.

A Música:

A música, que acompanha durante todo o tempo, é a toada, acompanhada por um grupo de mais de 400 ritmistas.

Os dois Bois dançam e cantam por um período de três horas, com ordem de entrada na arena alternada em cada dia. As letras das canções resgatam o passado de mitos e lendas da floresta amazônica. Muitas das toadas incluem também sons da floresta e canto de pássaros.


O Ritual:

O ritual dos Bumbás mostra a lenda de Pai Francisco e Mãe Catirina que conseguem, com a ajuda do Pajé, fazer renascer o boi do patrão. Conta a lenda que Mãe Catirina, grávida, deseja comer a língua do boi mais bonito da fazenda. Para satisfazer o desejo da mulher, Pai Francisco manda matar o boi de estimação do patrão.

Pai Francisco é descoberto, tenta fugir, mas é preso. Para salvar o boi, um padre e um médico são chamados (o pajé, na tradição indígena) e o boi ressuscita. Pai Francisco e Mãe Catirina são perdoados e há uma grande comemoração.


A Cidade:

Conhecida pelo festival do Boi-bumbá, que no mês de junho apresenta a competição dos Bois Caprichoso (Azul) e Garantido (Vermelho), Parintins foi fundada no século XVIII, ainda dentro do estado do Grão-Pará (atual estado do Amazonas). Mas seus primeiros habitantes foram os índios Maués, Sapupés, e Parintins (daí a origem do nome). 


Foi no ano de 1796 que a mando do governo português, José Pedro Cordovil aportou à região, denominando-a Tupinambara. Já em 1803, é criada no local uma missão religiosa, denominada Vila Nova da Rainha.

Em 1848 o local foi elevado à condição de Vila (já então integrada ao Estado do Amazonas), chamando-se então Vila nova da Imperatriz. E finalmente, sendo em 1880 elevada ao status de cidade, e rebatizada Parintins, como até hoje é conhecida.



Atrativos:

Artesanato indígena e delícias da rica culinária local são apenas algumas opções que o turista que chega a Parintins vai encontrar.

Sem dúvida, o período do Festival é o mais movimentado do ano: toadas e trios-elétricos invadem a ilha; torcidas se divertem dentro e fora do Bumbódromo ao som de Caprichoso e Garantido, colorindo de azul e vermelho toda a cidade durante o mês de junho.

Existem também outros atrativos na terra do bumba-meu-boi que merecem destaque. Entre eles está a pescaria, que oferece aos entusiastas toda a diversidade de espécies da Amazônia. Para esta atividade, o período sugerido é nos meses de setembro e outubro.

Outra peculiaridade está nos banhos de água doce da Amazônia, que variam desde as águas claras do Uiacurapá, ao agitado lago Macurany, conhecido pelos praticantes de jet-ski e outros esportes náuticos.
História do Festival:

Tido atualmente como o 2º maior festival folclórico do país (perdendo apenas para o Carnaval), Parintins começou sua festa no formato atual em 1964, época aonde já se destacava a rivalidade entre a torcida de Garantido e Caprichoso.

Divulgado inicialmente apenas para o público local, paulatinamente o Festival ficou conhecido em outras cidades, estados, até ganhar transmissão em TV aberta, como vem acontecendo nos últimos anos.


O Espetáculo:

Localizado na lha de Tupinambarana, a 420 kilômetros de Manaus, Parintins é uma cidade dividida. Dividida pelos enfeites e galeras dos Bois Caprichoso e Garantido que colorem o local durante o Festival de Parintins (entre 28 e 30 de junho).

A rivalidade é ferrenha, mas sempre respeitando a cordialidade. Tanto que os integrantes de Caprichoso, ou Garantido, limitam-se a chamar o rival de "contrário". E para abrilhantar a festa, a cidade de 35 mil mais que dobra de tamanho, ficando com mais de 100 mil pessoas entre Parintinenses e turistas.

No Bumbódromo, cada Boi se apresenta durante 3 horas nos três dias de festival. A ordem das apresentações é sempre definida por sorteio.

São nove da noite, o apresentador do Boi cumprimenta a platéia (o próximo Boi irá se apresentar por volta da meia-noite). Em seguida a toada começa a incendiar a arena. E o Bumbódromo literalmente treme.

Nessa festa, religiosidade e folclore se misturam entre animais da floresta, figuras do imaginário popular e índios. Os quatro mil integrantes de cada Boi contam ano após ano a história de Pai Francisco e Mãe Catirina, a qual tem um desejo incontrolável de comer língua de boi durante a gravidez, e pede a seu marido para saciá-lo.

Só que para cumprir a tarefa, Pai Francisco mata o boi preferido do patrão, que o descobre. Em seguida um padre e um médico (pajé na língua dos índios) são chamados e salvam o boi, que ressuscita e perdoa Pai Francisco e Mãe Catirina. Com isso a comemoração é completa.

Personagens da Festa:

Apresentador 

A ópera do Boi tem um apresentador oficial, que comanda todo o espetáculo. O levantador de toadas faz a trilha sonora e dá um show de interpretação, transmitindo empolgação à sua galera (Festival (torcida).


Levantador de toadas

Todas as músicas que fazem a trilha sonora das apresentações são interpretadas pelo levantador de toadas. Trata-se de uma figura importante, já que a técnica, a força e a beleza de sua interpretação não só valem pontos como ajudam a trazer à tona a emoção dos brincantes. David Assayag e o mais reconhecido levantador do festival.


Amo do Boi

O Amo do Boi, com seu jeito caboclo, exalta a originalidade e a tradição do nosso folclore, fazendo soar o berrante e tirando o verso em grande estilo. É a chamada do Boi, que vem para bailar.

Sinhazinha da Fazenda

É a filha do dono da fazenda, que se apresenta na arena dando sal pro boi.

Figuras Típicas Regionais e Lendas Amazônicas

Fazem aflorar os sentimentos de amor e paixão. Alegorias gigantes se movimentam. Coreografias e fantasias originais, com luz teatral e fogos, dão um brilho especial ao espetáculo.

Porta Estandarte, Rainha do Folclore e Cunhã-Poranga

Dão um banho de charme, beleza e simpatia. E na sequencia, o grande mito feminino do nosso folclore: Cunhã Poranga! A moça mais bela da tribo dá um show de magia, irradiando toda a sua beleza nativa, de olhar selvagem, com seu lindo corpo emoldurado de penas. Aparece aqui o elemento indígena, incorporado à festa do Boi no folclore amazônico.

Tribos

Dezenas de Tribos Masculinas e Femininas, com suas cores vibrantes, compõem um cenário tribal delirante, de coreografias deslumbrantes. Os Tuxauas Luxo e Originalidade são um primor de beleza.

Ritual

No apogeu da apresentação, acontece o Ritual, uma  dramatização teatral comovente, culminando sempre com a mágica e misteriosa intervenção do Pajé, o poderoso curandeiro e temido feiticeiro, que faz a dança da pajelança. É a grande apoteose da noite.

Galera

A galera (torcida) dá um show à parte. Enquanto um Boi se apresenta, sua galera participa com todo entusiasmo. Seu desempenho também é julgado. Do outro lado, a galera do contrário (adversário) não se manifesta, ficando no mais absoluto silêncio, num exemplo de cordialidade, respeito e civilidade.

Jurados

Os jurados são sorteados na véspera do Festival e todos vêm de outros estados. Pela proximidade, pessoas do norte são vetadas. O requisito é ser estudioso da arte, da cultura e do folclore brasileiro. Mais de 20 itens são julgados, à luz de um regulamento simples, claro e preciso.

Quem visita Parintins, fica encantado com a arte indígena, uma das temáticas da festa e com a culinária do local. O grande atrativo, porém, é o Festival Folclórico. É nessa época do ano que a população da cidade praticamente dobra.
Rivalidade dos Bois:
CAPRICHOSO - Simbolizado pela estrela azul, pela versão oficial o boi começou em 1925 após a saída de um de seus componentes, que foi substituído por dois irmãos cearenses, os quais criaram o boi para pagar uma promessa, mas existem outras interpretações da história:
Uma é de que teria surgido em meados da década de vinte, através de moradores de Parintins que se reuniram para fundar um Boi-bumbá, e homenagear o Boi Caprichoso, que já existia na cidade de Manaus. A idéia tanto deu certo, que o dono do Boi Galante de Parintins (existente desde 1922) aceitou a idéia.
Finalmente dizem que dois cearenses que ali chegaram, criaram o Boi para pagar promessa. Segundo eles, um Boi seria colocado para dançar nas festas de São João caso os dois tivessem sucesso na nova terra.

GARANTIDO
- Simbolizado pelo coração vermelho, o boi foi fundado em 1913 por Lindolfo Monteverde, famoso cantor de versos do local. Durante o serviço militar Monteverde adoeceu, e fez promessa para São João de que, caso recobrasse a saúde, criaria um Boi que sairia todos os anos à rua enquanto ele vivesse. E assim continua até hoje.
Quanto ao nome Garantido, as versões são muitas. Uma delas é de que teria surgido durante uma briga com o Boi contrário (em Parintins a torcida de um Boi chama o rival de contrário). Segundo Lindolfo, o seu Boi saia inteiro, enquanto o contrário sempre tinha o chifre quebrado. "Isso é garantido" dizia ele.
Outra hipótese envolve o repentista Emídio Vieira, que fez um desafio a Lindolfo: "... vou caprichar no meu Boi".E a resposta veio em seguida: "Pois capriche no seu que eu garanto o meu".
Inevitavelmente o Festival de Parintins é comparado ao Carnaval carioca. Afinal de contas, ambos envolvem carros alegóricos e fantasias. No entanto, as comparações param por aí.
Em 1º lugar, durante o Carnaval, as escolas de samba (14 no grupo Especial, mais 12 no grupo de acesso), compostas por diversas alas, desfilam ao som do samba cantado por seu puxador. Além disso, o desfile ocorre conforme uma parada: tem início na concentração, atravessa uma passarela, e termina na dispersão.
Já Parintins tem a dinâmica de uma Ópera: o espetáculo acontece dentro de uma arena circular, onde cada um dos bois realiza seu desfile com carros alegóricos que se mexem, e produzem vários efeitos especiais. Além disso, cada boi tem sua "galera", a qual ensaia uma coreografia para o desfile.
Finalmente um fato que merece destaque, é que enquanto um Boi desfila e sua galera faz coreografias, a galera do contrário deve permanecer em silêncio, para não ofuscar o espetáculo. Uma verdadeira lição de cavalheirismo.

Bumbódromo:

Inaugurado em 1988, o Centro Cultural e Esportivo Amazonino Mendes divide Parintins ao meio, marcando o limite dos currais de Garantido e Caprichoso: com capacidade para 35 mil espectadores, o Bumbódromo é considerado a maior obra cultural e desportiva do Estado do Amazonas.
Boi Garantido (vermelho), conhecido como "Boi do povão", divide o espaço com o Boi Caprichoso (azul), considerado como "Boi da elite". Durante a festa apenas 5% dos ingressos são vendidos, e o restante é gratuito para os espectadores do festival, cujos portões são abertos às 14 horas durante os dias do evento.

Seja vermelho ou azul, se você chegar cedo conseguirá pegar um lugar melhor na arquibancada. E se não conseguir entrar, seguramente você acompanhará a festa através de um dos cinco telões de 20 metros quadrados, colocados na face externa do Bumbódromo.

  
Curiosidades do Festival:

Se fosse depender do contexto da fauna amazônica, o Festival de Parintins deveria festejar a onça pintada, ou a cobra sucuri. Não o boi.

Mas o Boi-bumbá foi uma conseqüência do ciclo da borracha, quando milhares de nordestinos foram tentar a sorte na cultura extrativista do látex. Eles vieram de uma região tipicamente pecuarista, e trouxeram seus costumes, como o Boi-bumbá das festas juninas da região.

Outra curiosidade é que os jurados somente utilizam canetas de cor verde, para não haver influência no resultados por causa das cores.



Contagem dos Pontos:

Três jurados são selecionados todos os anos para coroar o Boi-bumbá de mais bonita apresentação, e melhor desempenho. No entanto, o processo seletivo dessas pessoas é envolto no mais absoluto sigilo. E o único que tem acesso prévio a estes nomes é o Presidente da Comissão Julgadora, eleita por ambos Bois.

A função do Presidente é de sortear três estados brasileiros, e informar a seus respectivos Secretários de Cultura sobre as regras do jogo.

Cabe então a cada estado selecionado indicar um jurado (desde que não tenha nenhum envolvimento prévio com o Festival).

Dentre os 22 quesitos que elegem o Boi campeão, os principais são:

- Levantador de toada

- Participação da galera e silêncio na apresentação do contrário

- Fantasia de cunha-poranga - mulher mais bonita

- Apresentador - é o narrador das entradas e apresentações de cada boi

Os jurados participam apenas do primeiro dia do Festival, e são apresentados ao público 15 minutos antes do início das exibições. E para evitar confusões, todos os anos o resultado é divulgado através da rádio.

Finalmente o festival termina com o desfile dos vencedores, e a passeata dos perdedores. Em Parintins até protesto é sinônimo de festa.

Vocabulário Paritinense:

- Alvorada
Espécie de passeata festiva realizada na madrugada para anunciar uma celebração

- Boi
O grupo (bloco) Caprichoso ou Garantido

- Brincantes
Integrantes dos bois

- Bumbódromo
Arena com arquibancada construída especialmente para abrigar o Festival Folclórico de Parintins. Fora da época de festas, o local abriga uma escola municipal com 18 salas de aula

- Contrário
O boi adversário

- Curral
Local onde se realizam os ensaios do boi-bumbá e as festas que antecedem o festival

- Encarnada
Vermelho, a cor do boi Garantido

- Ensaios
Festas realizadas no curral meses antes do festival nas quais os levantadores de toadas cantam com seus grupos para mostrar o trabalho dos compositores, arrecadar fundos e ensinar os passos à galera.

- Figuras
Personagens da lenda interpretada no bumbódromo

- Galera
O mesmo que torcida.

- Levantador de toada
Cantor oficial do boi-bumbá

- QG = Quartel General
Galpões onde são confecciondas as roupas e alegorias

- Toada
A trilha sonora do boi-bumbá. A cada ano, um novo CD com cerca de 16 toadas é lançado por cada boi.
- Tripa
Pessoa que fica debaixo da estrutura de pano do boi e controla seus movimentos

- Marujada de guerra
Nome da bateria do Caprichoso 














Um comentário:

  1. Adorei o post Luique, parabéns por dispensar algum tempo a escrever sobre tão linda festa.
    A cultura amazônia e tudo que envolve o festival de Parintins me encantam a muito tempo. Espero no próximo ano poder participar do evento.
    Parabéns mais uma vez e um salve aos bois.

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