SLIDES LH

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Entendendo o Baianês

Recém-formado e natural de Itaperuna,  Nivaldo Lariú veio parar na Bahia...
Recém-formado e natural de Itaperuna,  Nivaldo Lariú veio parar na Bahia em 1972, ao saber de uma vaga para engenheiros na Telebahia, aos 23 anos. Leitor de Capitães de Areia, guardava um esboço imaginário do que seria as cidades Alta e Baixa de Jorge Amado. “Esse conceito era difícil de entender, assim como as expressões que ele usava”. 
Em solo baiano, as tais expressões deram-lhe logo o ar da graça. “Eu encontrava os amigos baianos que me chamavam pra bater um baba. No meio do baba, um saía porque tava boiado, depois ia tomar uma”, lembra, às risadas. Daí em diante, criou o mau hábito de ouvir conversa dos outros no ônibus. De botuca, como se diz no linguajar local.
“Foram quatro ou cinco anos de pesquisa prazerosa, de ficar ligado na rua, ouvindo como as pessoas falavam e anotando no canhoto do cheque”, conta Lariú, que vive colecionando novos verbetes para a próxima edição – o livro está na terceira. “Não coloco coisas da novela ou de uma música. Eu aguardo (a gíria) assentar, sedimentar”.
“Por exemplo: ‘Toda boa’ morreu, ninguém mais viu, já ‘piriguete’ ficou”.
Da cobertura de seu apartamento, na Rua Banco dos Ingleses, Lariú observa o retrato dos três filhos – todos baianos – numa das estantes, fruto do primeiro casamento com uma oriental.  Há coisas com as quais nunca se acostumou: ‘painho’ e ‘mainha’ até hoje me entram arranhando”, sorri.
Casado com uma baiana, o engenheiro aposentado dedica-se a observar. Do apartamento, vê os moleques nadando na Praia da Gamboa de Baixo, sob um mar turquesa cristalino. Lembra-se mais uma vez de Jorge Amado. Certa vez, deu de presente um livro a Zélia Gattai, que mostrou a Jorge. De pronto, o escritor lhe telefonou elogiando o dicionário.
Lariú derrama-se quando lembra daquelas palavras: “Ele nunca soube, mas eu estou aqui por causa dele. Se esse dicionário é meu filho, é neto de Jorge”. Também recorda da generosidade do historiador Cid Teixeira, que lhe explicou cada uma das expressões. “Ele não queria que eu colocasse Q-boa, mas eu falei: Cid, o baiano chama qualquer água sanitária de Q-boa”, diverte-se Lariú.
Sessentão, admite não ter aquele vigor de outrora. Lariú perdeu a sensibilidade estrangeira de captar palavras esquisitas dentro do ônibus. “Estou graças a Deus perdendo um pouco o ouvido. Eu prefiro a sensação de ser baiano”, brinca, enquanto deixa ver os elogios no verso do livro, de Cid Teixeira, Afrânio Coutinho e Antônio Houaiss.
Comentário do autor do dicionário de português, sobre o Dicionário de Baianês: “Já o havia degustado (…) pelo bom humor com que foi feito, pelas saborosas ilustrações e pela engraçadíssima ‘historinha’ final. No conjunto, acertou 100%”.
Aqui algumas das expressões constantes do dicionário:

você
culhuda - mentira
cumeno água - tomando cachaça
cacete armado - birosca
gaitadas - risada alta,gargalhada
nigrinhagem - baixaria,baixo astral
inticava - implicar,ficar de marcação
troncho - desarrumado, torto, sem equilíbrio

armengado - mal ajambrado
fuleiro - simples, algo com poucos recursos
madorna - soneca
desassuntado - sem vergonha
ripou - tocou fogo
enganchado - preso
desmentiu - contundiu
caroara - tremedeira
espinhela caída - dor no peito
retou - chateou
ô, mais tá! - ora essa!, veja só!
estrompar - quebrar
xuetando - falandoDigite aqui o restantes do post

Nenhum comentário:

Postar um comentário