

“Foram quatro ou cinco anos de pesquisa prazerosa, de ficar ligado na rua, ouvindo como as pessoas falavam e anotando no canhoto do cheque”, conta Lariú, que vive colecionando novos verbetes para a próxima edição – o livro está na terceira. “Não coloco coisas da novela ou de uma música. Eu aguardo (a gíria) assentar, sedimentar”.
“Por exemplo: ‘Toda boa’ morreu, ninguém mais viu, já ‘piriguete’ ficou”.
Da cobertura de seu apartamento, na Rua Banco dos Ingleses, Lariú observa o retrato dos três filhos – todos baianos – numa das estantes, fruto do primeiro casamento com uma oriental. Há coisas com as quais nunca se acostumou: ‘painho’ e ‘mainha’ até hoje me entram arranhando”, sorri.
Casado com uma baiana, o engenheiro aposentado dedica-se a observar. Do apartamento, vê os moleques nadando na Praia da Gamboa de Baixo, sob um mar turquesa cristalino. Lembra-se mais uma vez de Jorge Amado. Certa vez, deu de presente um livro a Zélia Gattai, que mostrou a Jorge. De pronto, o escritor lhe telefonou elogiando o dicionário.
Lariú derrama-se quando lembra daquelas palavras: “Ele nunca soube, mas eu estou aqui por causa dele. Se esse dicionário é meu filho, é neto de Jorge”. Também recorda da generosidade do historiador Cid Teixeira, que lhe explicou cada uma das expressões. “Ele não queria que eu colocasse Q-boa, mas eu falei: Cid, o baiano chama qualquer água sanitária de Q-boa”, diverte-se Lariú.
Sessentão, admite não ter aquele vigor de outrora. Lariú perdeu a sensibilidade estrangeira de captar palavras esquisitas dentro do ônibus. “Estou graças a Deus perdendo um pouco o ouvido. Eu prefiro a sensação de ser baiano”, brinca, enquanto deixa ver os elogios no verso do livro, de Cid Teixeira, Afrânio Coutinho e Antônio Houaiss.
Comentário do autor do dicionário de português, sobre o Dicionário de Baianês: “Já o havia degustado (…) pelo bom humor com que foi feito, pelas saborosas ilustrações e pela engraçadíssima ‘historinha’ final. No conjunto, acertou 100%”.
Aqui algumas das expressões constantes do dicionário:cê – você culhuda - mentira cumeno água - tomando cachaça cacete armado - birosca gaitadas - risada alta,gargalhada nigrinhagem - baixaria,baixo astral inticava - implicar,ficar de marcação troncho - desarrumado, torto, sem equilíbrio |
armengado - mal ajambrado
fuleiro - simples, algo com poucos recursos
madorna - soneca
desassuntado - sem vergonha
ripou - tocou fogo
enganchado - preso
desmentiu - contundiu
caroara - tremedeira
espinhela caída - dor no peito
retou - chateou
ô, mais tá! - ora essa!, veja só!
estrompar - quebrar
xuetando - falandoDigite aqui o restantes do post
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